domingo, setembro 14, 2008

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os meus moinhos de vento... de MS

O menino de sua mãe

"No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
– Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
É boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe."

Fernando Pessoa

Acho que não irei conseguir vencer na nossa história, mãe...

4 Comments:

Blogger C' said...

Espero que esteja tudo bem por aí.

Esse poema faz-me lembrar uma professora odiosa que tive. A senhora era tão mas tão odiosa, que primeiro lembro-me ela, e do quanto ela era odiosa (já referi isto?), e depois aprecio o poema. É pena.

Beijinho imenso

14 setembro, 2008 14:14  
Blogger carpe diem said...

cátia...

Está tudo bem sim, obrigada... São os eternos problemas de familia... ;)...

beijinhos...

15 setembro, 2008 08:20  
Blogger João Roque said...

Quando leio este poema, parece-me ouvir o João Villaret a declamá-lo: sublime!
Beijinhos.

Espero que seja uma tempestade num copo de água...

15 setembro, 2008 09:11  
Blogger carpe diem said...

pinguim...

Sem dúvida!!! ;)...

É já uma tempestade permanente, mas a minha consciência está cada vez mais tranquila, o que é o mais importante... :) Obrigada!!!

beijinhos...

15 setembro, 2008 11:41  

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